terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Sobre a Morte e o Morrer.

Estava calma desde o princípio daquele dia, onde o que chamam de escola me apedrejavam com os olhares. Não liguei e nem deveria ligar (embora mais tarde fosse me envergonhar do meu jeito de usar o uniforme escolar).
Para a maioria das pessoas, ter um pai e uma mãe é essencial, e ao tê-los não agradecem. Eu já havia me conformado em ter os dois em momentos e lugares distintos. Todo os anos me mudando e não ficando exatamente em lugar nenhum me garantia histórias para contar apenas pra mim.
Eu não era tão sozinha antes do colegial. Era até popular e feliz com o que eu tinha. Mas isso não tem nada a ver com o que aconteceu há mim naquele início de tarde que desencadeou tudo o que vem acontecido até agora. Sim, isso foi real.
Tinha chegado em casa após um sábado cansativo no colégio e estava sedenta por paz e um pouco de limonada. O meu cansaço me proporcionou um prazer delirante na hora de comer, mas tudo ficou muito amargo após atender aquele telefonema.
- Courtney, preciso falar com sua mãe agora! - Era a voz de Rachel, estava chorando.
- O que foi que aconteceu, Rachel... Você está ligando de tão longe... é alguma coisa tão grave assim ? - Comecei a me preocupar.
- Courtney, chame sua mãe imediatamente! - Disse impaciente e notavelmente abalada.
- Minha mãe não está. Ela foi bem cedi...
- Dê um jeito de encontrá-la e diga para ligar aqui para casa urgente .
E assim desligou o telefone.
Fiquei em choque e por via, muito confusa com o que estava acontecendo. Só tinha alguém que poderia me esclarecer o que estava acontecendo. Resolvi ligar para ele.
- Alô, pai...
- Courtney, já encontrou sua mãe? - Era a voz de Rachel. Por que ela estava atendendo o telefone do meu pai?
- Rachel, onde está meu pai? Por que você está com o telefone dele? - Comecei a entrar em pânico e a temer o pior.
- Encontre sua mãe, Courtney... não é nada de mais...
- Não é nada de mais o caramba! Onde ele está, chame ele pra mim!
- COURTNEY, seu pai está no hospital. Ele está morrendo!

"..."

Foi o meu breve momento de não ter mais o que dizer e simplesmente não acreditar no que estava ouvindo. O momento da ilusão. Quando me recordo desse momento, é como se eu estivesse assistindo a cena meio que de longe. Consigo me ver observando a mim mesma com o telefone na mão direita e a mão na cabeça tentando entender. Oh, Pobre engano...
Tive tempo para tornar até a realidade e encontrar em algum lugar minha mãe. Nisso, tudo começou... A bagunça, a dó das pessoas, e o meu desmoronamento.
Fui me deitar tarde naquele dia. Minha mãe havia decidido largar tudo para ir conosco até a cidade de meu pai, há 1.700 quilômetros de onde estávamos. Dormi abraçada à uma bíblia (não iria largá-la a viagem inteira) e de meia em meia hora, como se fosse combinado com o meu organismo, eu acordava e pedia notícias à minha mãe.
Na manhã de domingo, as malas estavam arrumadas e estávamos partindo de uma vez para lá... foi a viagem mais angustiante de minha vida. A cada momento eu poderia estar recebendo uma notícia ruim. Nunca estive tão envolvida com a morte de alguém.
Quando chegamos em minha pequena cidade, minha mãe recebeu um pacote em mãos de John, um grande amigo do meu pai. Nesse pacote haviam seus pertences, dois celulares, o dinheiro suado e as chaves da casa...Ah, a casa. A maior dor que eu poderia sentir foi na hora de abri-las... era como se eu estivesse entrando em um corpo sem alma... AQUELA ALMA.
Naquele dia, ao dormir na cama vazia do meu pai, comecei a me adaptar aos pensamentos sobre a morte e o  morrer... Talvez fosse isso mesmo o que viria acontecer depois. A cada suspiro, menos um segundo....

Breves Apresentações e um início atrasado.

Olá,
Meu nome é Courtney*, na verdade esse é um pseudônimo. Ao desenrolar de tudo você irá até esquecer desse detalhe sórdido. 
Resolvi começar a escrever esse blog para tentar extravasar esse negócio de não ter com quem falar. Atualmente me sinto mais sozinha na presença das pessoas do que quando estou parada em um canto. 
De princípio é meio difícil já chegar contando tudo o que me levou até aqui... posso até acabar esquecendo detalhes cruciantes que na hora não me pareceram, porém eles sempre irão aparecer. Tentarei ser o mais fiel possível ao retratar tudo o que vi e vivi...
Bom, e meu início atrasado nos leva diretamente até Abril de 2008. Eu era uma adolescente como qualquer outra e não contrastava com nenhum outro cenário...